O NOSSO TEMPO

tenho aprendido com o tempo,
que a felicidade vibra,
na frequência das coisas mais simples...
como a doçura contente de um cafuné sem pressa...
como os instantes que repousamos os olhos em olhos amados...
como aquele poema que parece
que fomos nós que escrevemos...
como o toque da areia molhada sob os pés descalços...
como o sono relaxado e tranquilo
que põe todos os sentidos pra dormir...
como a presença da intimidade legítima e verdadeira...
como o banho bom que devolve forças ao corpo...
como o cheiro de quem se ama...
como essas coisas...
como outras coisas...

simples assim...

como o nosso amor...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Viver bem para bem viver...


é mais fácil reclamar da vida,
dos meios e dos fins,
difícil mesmo é alimentar-se
todos os dias de alguma luz,
contrabandear algum sorriso
e vender bons fluídos
sem ao menos saber como se faz isso direito,
a gente coloca a cara a tapa,
todos os dias,
inventa cores e sabores pra vida,
portanto,
vamos enviar nossa tristeza no adeus,
colocar o que dói num saco de lixo
e enterrar,
esquecer,de verdade,
deixar que a terra engula
o que ela mesma produziu,
afinal,
o que vem de baixo
a gente nem quer
e nem precisa mais ver...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Os trinta e três nomes de Deus:




de vez em quando perguntam-me se acredito em Deus,
mas é claro,
acredito mais que a maioria das pessoas,
tenho até trinta e três nomes para ele,
esses nomes foi a Margueritte Yourcenar que me contou,
ela foi uma escritora maravilhosa,
autora do livro Memórias de Adriano,
quem lê nunca mais esquece,
quero ler de novo,
pois esses são os trinta e três nomes de Deus
que ela me ensinou,
é só falar o nome,
ver na imaginação o que o nome diz,
para que a alma se encha de uma alegria
que só pode ser um pedaço de Deus...
mas é preciso ler bem devagarinho,
01. mar da manhã
02. barulho da fonte nos rochedos sobre as paredes de pedra
03. vento do mar de noite, numa ilha
04. abelha
05. vôo triangular dos cisnes
06. cordeirinho recém-nascido
07. mugido doce da vaca, mugido selvagem do touro
08. mugido paciente do boi
09. fogo vermelho no fogão
10. capim
11. perfume do capim
12. passarinho no céu
13. terra boa
14. garça que esperou toda a noite, meio gelada,
e que vai matar sua fome no nascer do sol
15. peixinho que agoniza no papo da garça
16. mão que entra em contato com as coisas
17. a pele, toda a superfície do corpo
18. o olhar e tudo o que ele olha
19. as nove portas da percepção
20. o torso humano
21. o som de uma viola e de uma flauta indígena
22. um gole de uma bebida fria ou quente
23. pão
24. as flores que saem da terra na primavera
25. sono na cama
26. um cego que canta e uma criança enferma
27. cavalo correndo livre
28. a cadela e os cãezinhos
29. sol nascente sobre um lago gelado
30. o relâmpago silencioso
31. o trovão que estronda
32. o silêncio entre dois amigos
33. a voz que vem do leste, entra pela orelha direita
e ensina uma canção
agradeço ao Carlos Brandão por haver me apresentado
os trinta e três nomes de Deus da Margueritte,
não é preciso que sejam os seus,
faça a sua própria lista,
eu incluiria:
ouvir a sonata Apassionata de Beethoven
sapos coaxando no charco
o canto do sabiá
banho de cachoeira, a tela “mulher lendo uma carta”, de Vermeer
o sorriso de uma criança
o sorriso de um velho
balançar num balanço tocando com o pé as folhas da árvore
morder uma jabuticaba,
todas essas coisas são os pedaços de Deus que conheço,
sim, acredito muito em Deus...

Rubem Alves
by


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Brindar a vida...


por isso, por tudo isso,
não canso de brindar a vida,
dela quero a festa toda
a que tenho direito,
buscas, chegadas,
erros, aprendizados,
lágrimas, vitórias,
pôr-do sol, encontros,
curativos sorrisos
olhares e refazer,
exalto o riso,
o sossego,
a reciprocidade,
o colorido,
o peito aberto
dispenso os medos,
as metades,
o vazio,
a insegurança
por isso hoje te digo,
não me venha com quases,
não me venha com nuncas ou vestígios de talvez,
não venha com pseudo- qualquer coisa
e emoções genéricas,
venha com sins aos montes,
e sabores de infinito,
venha com beijos,
flores,
palavras
e olhares,
venha com um móbile de estrelas,
cheiro de baunilha,
pés descalços,
uma saia colorida pra rodar,
balões de ar nas mãos,
poesia na parede e no viver,
vontade e disposição pra sentir
e um antídoto pros dias cinzas,
porque hoje é o meu dia,
mais um dia,
hoje que quero um dia leve,
de seriedades breves e bobagens intermináveis,
hoje eu quero um dia vestido para amar...





segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria, branquinha...

impossível não se emocionar,
impossível não se comover,
impossível não comentar,
impossível não lamentar,
impossível não orar...


minha voz hoje vem
do meu coração...



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ah,Western...


no mundo moderno,
a maioria das pessoas tem tendência
para considerar
o campo como um paraíso perdido no tempo,
a quilômetros de distância,
os mocinhos e mocinhas da cidade grande
olham o cenário rural,
onde aliás raramente põem os pés,
como se se tratasse, de um ser extra terrestre,
segundo eles, a vida rural é povoada
por lindas pastoras,
burrinhos fazendo toque-toque-toque
e velhinhas a fiar na soleira da porta,
durante a minha infância,
passei  tempo suficiente no campo,
na roça,
para saber
que nada disto corresponde à realidade,
ainda bem,
eu adoro,
o campo,
as matas,
o rural,
o rústico...